segunda-feira, julho 25, 2005

lembrei-me do Júdice... quando as nossas palavras não chegam

“Interrogação

Como a harmonia que se desprende das teclas, quando as toca o sopro do divino, assim me encontro com a tua imagem, os teus dedos hesitantes no curso da memória, e um vago recurso de raízes no desfecho da tarde. É este o ciclo da vida: a perfeição que entra no círculo de onde espero o regresso do que se perde: e as impurezas que se soltam do tempo que passa, obscurecendo a vista do que está para chegar. Mas a música não se importa com isto. O seu rumo define-se pelo movimento dos sons que entram na composição de uma sequência de brilhos e de sombras, enquanto o silêncio não afasta a emoção. E é nesse instante , entre o gozo de uma última vibração e o desânimo brusco de um eco final, que me apercebo da tua ausência. No entanto, digo, amanhã poderá trazer-me o que não sei, um novo horizonte na arritmia dos sentimentos, um rio de margens inundadas no fundo da imaginação. E para além disso, o quê?, se não estiveres comigo, entre esses arbustos que o inverno alimenta com o seu desejo, e a respiração de vento da tua alma?”

Nuno Júdice

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